Evidência liga estresse com doença periodontal

                        


A partir da metade da década de 1990, muitos estudos começaram a ser publicados na tentativa de esclarecer a relação entre fatores psicológicos, psicossociais e doença periodontal. Esses estudos têm como intuito verificar se o estresse poderia ser considerado um fator de risco real para a doença periodontal, uma vez que algumas variações de progressão e severidade da doença não são explicadas por fatores de risco biológicos e comportamentais já conhecidos. 

Há algum tempo já se conhece a importância da placa dental (fatores de virulência bacterianos) para o início e desenvolvimento da gengivite e da periodontite, tanto em pacientes saudáveis como em pacientes imunocomprometidos. Sabe-se também que fatores de defesa do hospedeiro podem determinar a progressão e severidade da doença periodontal. Portanto, se ocorrer uma diminuição da efetividade da resposta do hospedeiro frente a esse constante desafio bacteriano, o indivíduo estará mais susceptível ao surgimento da doença periodontal. Nesse sentido, um número expressivo de estudos tem demonstrado que o estresse emocional pode alterar a secreção de produtos de defesa do hospedeiro. Um exemplo seria a diminuição da produção de imunoglobulina-A (IgA). Este é o anticorpo predominante na saliva e pode ser considerado o agente antibacteriano mais importante em um quadro de saúde (McCleland et al. 1985). A sua diminuição provoca destruição tecidual ativada por produtos bacterianos, provavelmente, mediada por meio de citocinas liberadas por células do sistema imune ativadas, entre outras, levando a um desequilíbrio na relação parasita–hospedeiro.

Dados de várias pesquisas apontam que no estresse ocorre uma depressão na quimiotaxia e fagocitose neutrofílica, assim como a redução na proliferação de linfócitos, mudanças no padrão de citocinas, dentre outras alterações (Shapira et al, em 1999-2000; Maes et al, em 1998; Breivik et al, em 2000; Mengel, Bacher e Flores-de-Jacoby, em 2002; Kim e Maes, em 2003; Johannsen et al, em 2007).

Uma das relações estudadas atualmente está entre os níveis de cortisol na saliva e a perda óssea alveolar em pacientes com doença periodontal avançada. Uma direta correlação entre esses parâmetros já foi demonstrada em pacientes com pobres estratégias para combater o estresse (Hugoson et al. 2002). 

Um evento estressante é considerado a chave para a exacerbação ou diminuição das defesas do hospedeiro. Ambos os processos predispõem ao indivíduo o desenvolvimento de um processo inflamatório, como também a evolução da doença periodontal. 
Os efeitos do estresse emocional na imunidade e, consequentemente, em doenças infecciosas como a doença periodontal já foram relatados. O evento estressante se mostrou capaz de alterar os diferentes sistemas envolvidos e prejudicar com isso, o equilíbrio entre a resposta do hospedeiro e a agressão dos micro-organismos (Breivik et al. 1996).

Os estudos constataram que 57% dos estudos revisados mostravam uma ligação entre estresse, angústia, ansiedade, depressão e solidão e doença periodontal. Níveis aumentados de cortisol — um hormônio produzido pelo corpo em níveis mais elevados durante momentos de estresse — pode ser um fator de contribuição para abaixar a imunidade do corpo, tornando-o mais susceptível à doença periodontal, teorizam os pesquisadores.

Eles também observaram que indivíduos estressados têm maior probabilidade de adotar hábitos que promovem doença periodontal, como fumar, não ingerir uma dieta balanceada, não cuidar dos dentes e gengivas ou adiar as consultas com o dentista.
Os autores do estudo recomendam que os indivíduos tentem reduzir o nível de estresse para proteger sua saúde bucal.

Controlar seu estresse também pode ajudá-lo a proteger sua saúde bucal, dizem pesquisadores brasileiros.